27 de setembro de 2022
Por: Elisa Rocha de Castro
Há alguns milhares de anos, várias espécies de grandes mamíferos coexistiam com os seres humanos no Brasil. A Notiomastodon platensis foi uma dessas espécies, um animal semelhante aos atuais elefantes viveu aqui entre 120 e 21 mil anos atrás. Assim como grande parte da extinção da megafauna, a razão de seu desaparecimento pode estar relacionada à atividade humana e, nesse caso, por causa da predação de filhotes/jovens.
Como assim?!? Predação de filhotes?!?
Sim, predação de filhotes. Por serem menores e mais frágeis eram presas fáceis e serviam de alimento para todo o grupo durante vários dias, pois, mesmo sendo jovens, pesavam cerca de 150 kg. Sendo assim, abater um jovem desse “elefante” tinha um excelente custo-benefício. Se essa prática tiver ocorrido durante séculos, ela poderia ser suficiente para levar à extinção da espécie.
Tá, mas de onde veio essa ideia de que os humanos comiam “elefantes”?
Um recente estudo feito com um fóssil de Notiomastodon platensis encontrado em Lagoa Santa, da coleção paleontológica do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, apontou a presença de um artefato humano cravado no crânio de um indivíduo jovem, de cerca de um ano de idade, que foi inserido com o animal ainda vivo. Esse artefato se assemelha muito ao tipo de ferramenta que a comunidade que vivia na região de Lagoa Santa utilizava, indicando que o animal pode ter sido vítima desse povo. Por que mais alguém mataria um “elefante” jovem a não ser para se alimentar?
E por que a descoberta desse fóssil foi tão importante?
Este é o único registro claro da morte de um animal da megafauna causada por humanos na América do Sul. Isso indica que os habitantes daqui poderiam ter o hábito de caçar essas grandes presas e que outros sítios paleoarqueológicos onde se encontram animais com marcas feitas por humanos também podem estar relacionados à predação.
Nota: Infelizmente, o fóssil original deste importante achado foi roubado, em Belo Horizonte, no dia 02/12/2012, junto com o veículo, que o transportava de volta à coleção do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, após seu empréstimo para o estudo, no Rio de Janeiro.
Artigo fonte: Mothé, D.; Avilla lS.; Araújo-Júnior H.I.; Rotti A.; Prous A.;. Azevedo S.A.K. (2020). An artifact embedded in an extinct proboscidean sheds new light on human-megafaunal interactions in the Quaternary of South America. Quaternary Science Reviews, v. 229, n. 106125. Doi: 10.1016/j.quascirev.2019.106125. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0277379118309806 (acessado em: 23/05/2023).
Fonte e legenda da imagem de capa: Ilustração de como o golpe pode ter sido deferido para a morte do fóssil encontrado. Autoria de Vitor Silva. Extraída do artigo fonte.