24 de setembro de 2022
Por: Valber Marques Pereira
Buscando trabalhar a comparação da tafonomia, ou seja, o entendimento do estado de conservação e dos processos de transformação da carcaça em fósseis, que foram encontrados na porção sul do Brasil, foram realizados análises sobre as peças achadas no Arroio do Chuí e nas demais porções do litoral gaúcho, a fim de se comparar como os fósseis eram incorporados na litosfera das diferentes regiões e avaliar em qual posição de fato esse material estaria em meio as diferentes camadas de rocha sedimentar.
A motivação para o desenvolvimento do estudo está muito atrelada ao fato de que a área analisada é marcada por características geográficas peculiares com a presença de barreiras rochosas intercalados por grandes corpos de água salgada e também por ter um histórico geológico ímpar, visto que pelo que se entende, o litoral gaúcho é oriundo de quatro grandes processos de transgressão e regressão do mar, o que consequentemente acabou por formar cordões de sedimentos arenosos ao longo do litoral e inevitavelmente também impactou fortemente da deposição e molde da matéria, como os sedimentos e fósseis.
Inicialmente, os pesquisadores realizaram pesquisas que constataram quais eram animais que viviam na região em períodos do passado. Os fósseis utilizados foram coletados entre os anos de 1999 e 2001 nos arredores do arroio e que foram analisados quanto a presença ou ausência de articulações, a camada de sedimento as quais estavam associados, o quão preservados estavam e quais os possíveis processos tafonômicos aos quais foram submetidos. As análises do solo e das camadas se deram por meio do recolhimento de amostras de 10 cm verticais e também por corte verticais nos barrancos do arroio. Nas Praias foram coletados 4.116 fragmentos fósseis, ao longo de uma extensão de 500 km ao longo da costa.
No arroio os fósseis de mamíferos da megafauna como do Lestodon (preguiça terrícula) foram encontrados em uma profundidade entre 2,5 a 3,5 metros de profundidade, marcados por aparente fraturas causadas por peso do substrato e por predação oportunista de outros animais sobre o cadáver que deixou o registro fóssil.
Ao comparar esse trabalho com um artigo de 1973, levando em consideração a disposição dos sedimentos e condições dos fósseis, o arroio do Chuí, que antes era classificado por apresentar sedimentos lagunares, foi reinterpretado como uma acumulação de sedimentos de praia que sofreu com influência de ondas e com energia moderada. A litosfera originárias das praias, que antes era classificado apenas como paleossolo (solo formado há aproximadamente 11,5 mil anos atrás) foi reinterpretado como um composto de sedimento lagunar oriundo do penúltimo grande corpo d´água do litoral formado há mais de 120 mil anos.
O que se concluí é que ambos os fósseis estavam em sistemas lagunares e que alguns podem ter sofrido transporte por meios hídricos localizados entre o continente e o litoral que existiam no Quaternário. Os fósseis transportados até o atual litoral sofreram mais degradações e foram mais dispersos por ação da água e energia das ondas e os do arroio do Chuí permaneceram relativamente mais preservados.
Artigo fonte: LOPES, RENATO PEREIRA, FRANCISCO SEKIGUCHI BUCHMANN, FELIPE CARON, e MARIA ELIZABETH ITUSARRY. 2001. Tafonomia De Fósseis De Vertebrados (Megafauna Extinta) Encontrados Nas Barrancas Do Arroio Chuí E Linha De Costa, Rio Grande Do Sul, Brasil. Pesquisas Em Geociências 28 (2):67-73. Doi: 10.22456/1807-9806.20269. Disponível em: https://doi.org/10.22456/1807-9806.20269 . Acessado em: 31/03/2023.
Fonte e legenda da imagem de capa: Exemplo do fóssil coletado, com partes relativamente bem preservadas e algumas fraturas causadas pela pressão do solo na estrutura. Extraída do artigo fonte.