Formigas zumbis do Eoceno*

04 de julho de 2022

Por: Lucas Siqueira

*Texto publicado também no espaço biótico <confira aqui>

Você já ouviu falar nas formigas zumbi? São apelidadas dessa forma formigas infectadas pelo fungo Ophiocordyceps unilateralis, que mudam seus hábitos, abandonam suas funções no formigueiro e direcionam-se para uma árvore qualquer, com folhas saudáveis, se fixando em inervações principais da face abaxial das folhas. O local onde se fixam oferece excelentes condições de umidade e temperatura para a germinação do fungo. Após fixarem-se, são mortas, e o fungo cresce sua estrutura de frutificação na cabeça da formiga. Desse corpo o fungo libera esporos, que irão infectar outras formigas. A relação formiga-fungo é bastante específica, e os fungos, quase sempre, infectam formigas da mesma espécie.

Para se fixarem, as formigas mordem as inervações, prendendo suas mandíbulas. Essas mordidas são chamadas de fincada da morte, em livre tradução do inglês “Death-grip”, e deixam marcas muito distintas nas folhas, além da localidade das mordidas, que não é usual de formigas saudáveis, e as mandíbulas, que podem seguir agarradas a inervação mesmo depois de muito tempo. Todos os traços desse comportamento são bastante característicos e de fácil identificação.

Eis que foi encontrada, em Messel, na Alemanha, um fóssil de uma eudicotiledônia de 48 Ma. A princípio os pesquisadores pensaram tratar-se de corte venal para drenagem de látex, um comportamento comum em herbívoros modernos, mas essa hipótese foi desconsiderada já que as perfurações não se pareciam em nada com os recortes distintos decorrentes desse hábito. As marcas se pareciam bastante com as deixadas por formigas infectadas por Ophiocordyceps unilateralis. E, pelo que existe atualmente, o fungo infecta, em sua grande maioria, formigas do gênero Camponotus, que apesar de nunca terem sido encontradas em Messel, há registros em outras localidades da Alemanha, datando também do Eoceno, o que indica ser totalmente possível a existência do gênero no paleoecossistema de Messel. Conclui-se assim, que essa relação tão específica tem uma origem não tão recente.

Artigo fonte: Hughes, David & Wappler, Torsten & Labandeira, Conrad. (2011). Ancient death-grip leaf scars reveal ant-fungal parasitism. Biology letters. v. 7, p. 67-70. Doi: 10.1098/rsbl.2010.0521. Disponível em: https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rsbl.2010.0521 . Acessado em: 03/02/2023.

Fonte e legenda da imagem de capa: Fóssil da folha com as marcas de mordida nas inervações. Foto de Torsten Wappler. Extraída de insider.si.edu. Disponível em: https://insider.si.edu/2010/11/fossil-reveals-48-million-year-history-of-zombie-ants/. Acessada em: 03/02/2023.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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