Quem veio primeiro, a flor ou a abelha?

02 de julho de 2022

Por: Victor Gomes

As abelhas são animais que vemos comumente visitando as flores dos nossos jardins. Elas são ótimos exemplos de animais polinizadores. Cerca de 87,5% das angiospermas — plantas que produzem flores e frutos — tem como mediador dos seus gametas animais, sendo eles 70% insetos. Esta é uma interação muito importante, pois enquanto a planta se beneficia do transporte de pólen para a reprodução, os insetos se beneficiam com o néctar ou pólen, que servem de alimento. É uma relação muito íntima e algumas flores podem ser polinizadas por apenas um tipo específico de insetos. Por muito tempo se acreditava que os insetos polinizadores evoluíram e se diversificaram junto com as angiospermas, em um processo chamado coevolução, no entanto, para Yasmim Asar e seu grupo de pesquisa o processo pode ter ocorrido de maneira diferente.

A origem das angiospermas atuais é incerta. Fósseis de pólens com estruturas típicas destas plantas datam do Cretáceo inferior, há cerca de 125 milhões de anos atrás, porém estudos moleculares sugerem que estes organismos já estavam presentes na Terra desde o Jurássico, há cerca de 160 milhões de anos atrás, ou no Triássico, um período ainda mais antigo. O cenário antes do aparecimento destas plantas era dominado por gimnospermas (plantas que produzem sementes, porém não produzem flores nem frutos, como os pinheiros) e samambaias. Com o surgimento e diversificação das angiospermas, o cenário mudou e elas passaram a ocupar a maior parte dos ambientes terrestres.

Contudo os insetos que atualmente desempenham o papel crucial da polinização, como vespas, mariposas, moscas e besouros apareceram durante o Carbonífero e Permiano, bem antes das Angiospermas, há cerca de 260 milhões de anos atrás. Assim, sugeriu-se que o aparecimento e diversificação destes animais não estão ligados às angiospermas e já interagiam polinizando as gimnospermas. Essas plantas, que hoje em sua maioria são polinizadas pelo vento, eram polinizadas por insetos durante o Triássico até o meio do Cretáceo, ponto que marca o aparecimento da primeira angiosperma indiscutivelmente. No registro fóssil é possível ver insetos fossilizados junto com pólen de gimnospermas, além disso possuíam estruturas parecidas com o dos insetos polinizadores atuais para a otimização do transporte de pólen e coleta de néctar.

Ademais, segundo dados moleculares e fósseis, não ocorreu aumento da diversidade de insetos durante o Cretáceo, propondo que ocorreu uma substituição, os insetos que polinizavam as gimnospermas passaram gradativamente a polinizar as angiospermas a medida que se diversificavam. Os mais especializados acabaram sendo extintos, enquanto os mais generalistas possivelmente eram capazes de interagir com as novas plantas que passavam a ocupar cada vez mais o cenário terrestre. Com o passar do tempo, em um período pós-Cretáceo as angiospermas se diversificaram junto com os insetos, formando a grande e complexa rede de polinização que conhecemos hoje. As gimnospermas perderam o espaço que antes ocupavam e passaram a se situar principalmente nas zonas temperadas, onde o clima frio e seco impossibilita a polinização pela maioria do insetos, assim passaram a utilizar do vento como principal polinizador.

Artigo fonte: Yasmin Asar, Simon Y.W. Ho, Hervé Sauquet, 2022, Early diversifications of angiosperms and their insect pollinators: were they unlinked?, Trends in Plant Science, 1360-1385. Doi.: 10.1016/j.tplants.2022.04.004 Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S136013852200108X?via%3Dihub . Acessado em: 20/01/2023.

Fonte e legenda da imagem de capa: Imagem ilustra um inseto polinizador visitando uma flor. Autoria de Alvesgaspar. Extraída de commons.wikimedia.org. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/71/White_flower_with_beetle.jpg/727px-White_flower_with_beetle.jpg?20070530153824. Acessada em: 20/01/2023.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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