03 de julho de 2022
Por: Lucas Ferreira Goularte
O sítio fossilífero Ashfall Fossil Beds, antigamente um lago, localizado no estado de Nebraska, Estados Unidos, é um registro do impacto catastrófico de uma erupção super vulcânica que ocorreu a 1600 km dessa comunidade biótica. Por volta de 12 milhões de anos atrás um supervulcão em Idaho, nos Estados Unidos, entrou em erupção repentinamente e enviou cinzas durante um longo período de tempo, por toda a extensão da América do Norte, criando um ambiente quase sem oxigênio — característica que contribui para a preservação de fósseis.
Essa erupção vulcânica, foi responsável por promover um surpreendente poder de preservação de fósseis, além de todo o seu poder destrutivo, óbvio. Esse evento conseguiu manter preservado por milhões de anos no futuro, um ecossistema inteiro nas emergentes Grandes Planícies do final do Mioceno, fazendo com que essa região de Ashfall Fossil Beds, tenha um valor altamente significativo em vários aspectos de estudos científicos.
A região em Ashfall Fossil Beds é conhecida por ser um Lagerstätte — termo da Paleontologia que se refere a depósitos sedimentares que apresentam um conjunto de fósseis incrivelmente preservados — de classe mundial de esqueletos de mamíferos predominantemente articulados, além disso, preserva um conjunto de esqueletos articulados de répteis, pássaros, entre outros.
É possível achar mais de 20 táxons enterrados nesta localidade das cinzas que se encontra dividida em diferentes camadas. Táxons de animais menores, como por exemplo, pássaros, tartarugas e mosquitos, se encontram em uma camada mais profunda desse sítio fossilífero, indicando uma morte rápida, ou seja, logo após o evento da erupção vulcânica. Infelizmente os animais maiores não tiveram a mesma “sorte”.
As camadas intermediárias são compostas basicamente por equídeos e camelídeos, estando separados dos esqueletos menores por vários centímetros de cinzas, indicando uma morte mais tardia, além disso, evidências encontradas nos ossos dos cavalos e camelos também sugerem essa morte mais tardia, podendo chegar a várias semanas ou meses após o evento. Por fim, mais de 100 esqueletos intactos, em sua maioria de rinocerontes, cobrem os restos das camadas superiores.
Além disso, apesar desse evento ter sido devastador, ele é um dos raros casos na paleontologia que ocorrem uma preservação excepcional em um contexto com tantas informações e devido a isso, permitiu que a comunidade científica conhecesse aspectos do comportamento, estrutura social, patologia de espécies, entre outras tantas informações, de 12 milhões de anos atrás. É válido relembrar que eventos de tamanha grandeza igual a essa erupção vista, são fenômenos extremamente raros, não devendo ocorrer nos próximos milhares de anos, felizmente.
Texto fonte: Tucker, S.T., Otto, R.E., Joeckel, R.M., and Voorhies, M.R., 2014, The geology and paleontology of Ashfall Fossil Beds, a late Miocene (Clarendonian) massdeath assemblage, Antelope County and adjacent Knox County, Nebraska, USA, in: Korus, J.T., [ed.], Geologic Field Trips along the Boundary between the Central Lowlands and Great Plains: 2014 Meeting of the GSA North-Central Section: Geological Society of America Field Guide 36, p. 1–22, doi:10.1130/2014.0036(01). Disponível em: https://pubs.geoscienceworld.org/books/book/889/chapter-abstract/4643607/The-geology-and-paleontology-of-Ashfall-Fossil?redirectedFrom=fulltext Acessado em: 20/01/2023.
Fonte e legenda da imagem de capa: Fósseis do sítio fossilífero Ashfall Fossil Beds. Autoria de Greg Goebel. Extraída de commons.wikimedia.org. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ybash_7b_(7701114644).jpg . Acessada em: 20/01/2023.