Tafonomia de Fósseis de Vertebrados da Megafauna Extinta

17 de maio de 2022

Por: Letícia Oliveira Diniz

O artigo sobre o qual escrevo hoje, busca demonstrar e descrever a tafonomia de fósseis de vertebrados extintos da Megafauna no Pleistoceno (uma época do período Quaternário), encontrados nas barrancas do arroio Chuí e compará-los aos fósseis achados ao longo da faixa litorânea do Rio Grande do Sul. Assim, os autores objetivaram produzir uma nova interpretação da sua posição estratigráfica, conforme estabelecido pelo modelo de deposição laguna-barreira de Villwock.

Nessa região específica, a planície costeira foi formada pela subida e descida do mar, as chamadas transgreções-regreções marinhas. Ao longo do Pleistoceno ocorreram alguns eventos glaciais e, a cada glaciação, o nível do mar regredia, deixando a planície costeira exposta. Por consequência, animais que habitavam regiões vizinhas passaram a ocupar essa área. Posteriormente, ocorreram subidas e descidas do nível do mar que, intercaladas, formaram barreiras de areias aprisionando corpos lagunares adjacentes, localizados em uma região mais baixa, entre a barreira e os terrenos interiorizados. Tornando, assim, esses depósitos lagunares um local propício para preservação dos fósseis.

Nas barrancas do arrio Chuí foram encontrados e descritos alguns fósseis levando em consideração se estavam articulados ou desarticulados, sua taxonomia, grau de preservação e qual camada estratigráfica estariam associados. Após levantamentos estratigráficos feitos nas barrancas, quatro camadas mostraram-se bem visíveis: na primeira, entre 3,5 e 4,5 metros de profundidade, foram encontrados moldes de moluscos, o que sugere origem em zona de praia intermaré; na segunda, entre 3,5 e 2,5 metros da superfície, tem o aumento na relação lama-areia e apresenta fósseis de mamíferos da Megafauna, cuja a idade é estimada em 120 mil anos; na terceira e quarta camadas não são encontrados fósseis, apenas marcas de raízes e acumulo de matéria orgânica.

Na atualidade, o nível do arroio Chuí apresenta algumas variações durante o ano, principalmente em abril e agosto, quando o nível da água sobe, erodindo as margens e deixando os fósseis à mostra. Por via de regra, são encontrados desarticulados, pela decomposição das partes moles, ação de necrófagos, perturbação dos solos ou agentes físicos, apresentando traços evidentes de transporte. Porém, no arroio Chuí os fósseis foram depositados em sistemas lagunares durante o Pleistoceno superior e as características apresentadas nos sedimentos, demostram um ambiente deposicional com baixa dinâmica, insuficiente para transportá-los a longas distâncias. Assim, quando depositados ao longo dos cursos d’água e cobertos por sedimentos, tornaram-se grandes candidatos a preservação. E a partir dessas características, esses locais poderiam ser meandros de rios, deltas intra-lagunares, onde a água deixa de ser o agente transportador.

Finalmente, os fósseis que apareceram na praia foram originalmente depositados no sistema lagunar continental, com um grau de retrabalhamento muito maior que do arroio, sendo transportados por correntes marítimas e ondas, depositados em ambiente marinho raso, com alta dinâmica. Hoje, encontrados nas praias juntamente com fósseis de origem marinha.

Artigo fonte: Renato Pereira Lopes, Francisco Sekiguchi Buchmann, Felipe Caron, Maria Elizabeth Itusarry, 2002. Tafonomia de Fósseis de Vertebrados (Megafauna Extinta) Encontrados nas Barrancas do Arroio Chuí e Linha de Costa, Rio Grande do Sul, Brasil. Pesquisas em Geociências, 28 (2): 67-73. Doi: 10.22456/1807-9806.20269 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>

Fonte e legenda da imagem de capa: Mandíbula achada in situ nas barrancas do arroio Chuí, onde a parte exposta do fóssil é a parte inferior da mandíbula. Figura extraída do artigo fonte.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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