Tafonomia em cavernas brasileiras, com destaque em Minas Gerais

16 de maio de 2022

Por: Thaís B C

Minas Geais é o estado brasileiro que mais se destaca quando o assunto é tafonomia em cavidades naturais, um grande exemplo é o carste, em Lagoa Santa. Outros estados, como: Bahia, Piauí, Tocantins e São Paulo também possuem destaque. Durante muito tempo houve uma predominância do estudo tafonômico visando megamamíferos e restos fósseis de grandes animais. Porém, a partir de 2001, houve um aumento do estudo que envolve pequenos vertebrados, répteis e marsupiais. E o que se destaca nesse estudo são: o modo de entrada do fóssil na caverna, a ação das águas nesse transporte, o estado de fossilização e o grau de fragmentação dos ossos.

Figura 1: Estudo tafonômico em cavernas nos estados brasileiros, ao longo dos anos. (Extraída do artigo fonte.)

As cavernas brasileiras sofrem diferentes processos de deposição sedimentar, para isso é importante estudar a morfologia da caverna e a disposição dos fósseis. Caso um fragmento fossilizado seja encontrado, deve-se levar em conta todas essas características, para que ocorra o mínimo de erro possível na hora da identificação.

Grande parte dos fósseis da caverna do carste, em Lagoa Santa (MG), estão preservados em solos carbonatados. É necessária uma extração correta do material para que haja o mínimo de danificação possível, visto que, os solos carbonatados possuem alto grau de dureza, tornando-se os mais difíceis jazigos cavernícolas. Para a retirada do material em campo: demarca-se pontos físicos nas paredes, para então fazer a retirada com a caneta pneumática, martelo e pincéis. Já em laboratório é necessário apontar o azimute e a profundidade onde cada elemento ocorre, no bloco carbonático extraído, para isso utiliza-se uma trena e um transferidor. O trabalho é lento, para que nenhuma parte importante seja perdida.

Um dos pioneiros no estudo de tafonomia em cavernas brasileiras foi Peter Lund (1801-1880). Esse naturalista dinamarquês trabalhou em grutas calcárias mineiras, como no cartes de Lagoa Santa – MG. Seu objetivo era estudar a taxonomia, porém após várias observações notou-se que agentes biológicos, físicos e químicos são capazes de causar modificações impressas nos ossos. Percebeu também que enxurradas contribuem para retrabalhamento e fragmentação dos fósseis preservados.

Em 1842, Lund encontrou, na gruta de Sumidouro (Lagoa Santa – MG) restos de fósseis humanos associados a mega fauna extinta. Foram encontrados restos de 30 indivíduos, em bom estado de preservação, porém sem conseguir apresentar resultados conclusivos sobre a ocorrência simultânia dos restos humanos e da megafauna extinta.

Na década de 1930 a 1960 foram realizadas novas escavações na região, e em Lagoa Funda (Pedro Leopoldo – MG) foram encontrados anta, tatu gigante, lhama, tartarugas e 2 ursos, em diferentes níveis estratigráficos. Já na região de Lapa de Confins (Confins – MG) foram descobertos restos humanos junto com restos da megafauna. Porém, percebendo diferentes entradas na gruta, uma hipótese foi formulada: os restos humanos foram carregados pela água através de uma das entradas e misturou-se com a da megafauna, que já se encontrava no interior da caverna, comprovando que foram depositados em eventos distintos. Sendo assim, para a região, a dúvida ainda permanece, se os humanos mais antigos teriam ou não convivido com essa fauna, hoje extinta.

Artigo fonte: Vasconcelos A.G., Kraemer B.M., Meyer K.E.B. 2018. Tafonomia em cavernas brasileiras: histórico e método de coleta de fósseis preservados em solo carbonatado. Terræ Didatica, 14(1):49-68. DOI: 10.20396/td.v14i1.8652042 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>

Fonte e legenda da imagem de capa: Diferentes tipos de preservação dos fósseis, que podem ser encontrados no interior de cavernas. (A) restos de preguiça extinta soltas sobre o piso da caverna, (B) restos fossilizados de morcego aderido à calcita, e (C) sequência parcialmente articulada de pequenas vértebras em paleopiso da caverna. Figura extraída do artigo fonte.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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