23 de novembro de 2021
Por: Maria Alves
Quando falamos no Cretáceo, a era geológica que teve fim há cerca de 66 milhões de anos atrás, há sempre um destaque para a grande diversificação nos mais variados grupos de seres vivos. As radiações evolutivas levaram a um crescimento da biodiversidade em vegetais, insetos, anfíbios, répteis, contando ainda com o surgimento de diversos mamíferos placentários, marsupiais e monotremados. Em especial, o período representa o auge da vida do dinossauros na Terra e, essencialmente, o fim do Cretáceo é marcado pela mais conhecida extinção em massa do planeta.
A Extinção K-T, essa extinção em massa que marca a transição do Cretáceo para o Paleoceno (o primeiro período da era Cenozoica, a “Era dos Mamíferos”), data em cerca de 66 milhões de anos. Esse evento geológico foi responsável pela alteração das condições climáticas de todo o planeta, impactando na biodiversidade da Terra ao declinar e extinguir diversos grupos de espécies, dentre os quais se destacam os dinossauros.
Por um lado, o grande evento levou à extinção inúmeros grupos vegetais e animais, entretanto, esses grandes desaparecimentos possibilitaram a radiação adaptativa de vários outros grupos. Ou seja: os grupos sobreviventes ficaram livres para se adaptarem e formarem novas espécies nos mais diversos nichos ecológicos. E é aí que entram os primatas!
Os Purgatoriidae compõe a família (já extinta) de primatas primitivos, considerados tão antigos geologicamente que seria o suficiente para terem originado os primatas posteriores (RADHAKRISHNA, 2006), por vezes sendo conhecidos como “proto-primatas”. Recentemente, foram descritos peças dentárias fósseis que indicam a existência de duas espécies deste grupo há 65,9 milhões de anos – uma data muito próxima à época da extinção dos dinossauros (MANTILLA, 2021).
A descoberta de indivíduos primatas vivendo nesse período tão inicial do Paleoceno sugere fortemente que os Purgatoriidae – e consequentemente os primatas – tenham um ancestral originado ainda no Cretáceo, tendo este ancestral primata existido em um mundo habitado e dominado pelos grandes dinossauros, e sendo um sobrevivente do evento de extinção em massa.
A diversificação desse grupo foi continuada ao longo do Paleoceno, seguindo uma tendência à onivoria e herbivoria, originando um grupo de mamíferos de hábito arborícola que passou por um processo de evolução explosivo que – muitos e muitos milhões de anos depois – deram origem aos primatas viventes da era atual (Figura 1).

O próximo passo, segundo os pesquisadores, é encontrar o “elo perdido”, o indivíduo que seria uma espécime em transição do primata primitivo ao primata atual.
Artigo fonte: MANTILLA, Gregory P. Wilson; CHESTER, Stephen G. B.; CLEMENS, William A.; MOORE, Jason R.; SPRAIN, Courtney J.; HOVATTER, Brody T.; MITCHELL, William S.; MANS, Wade W.; MUNDIL, Roland; RENNE, Paul R.. Earliest Palaeocene purgatoriids and the initial radiation of stem primates. Royal Society Open Science, [S.L.], v. 8, n. 2, 24 fev. 2021. The Royal Society. DOI: 10.1098/rsos.210050 <Clique aqui para acessar o artigo>
Material bibliográfico complementar consultado:
RADHAKRISHNA, Sindhu. From Purgatorius ceratops to Homo sapiens. Resonance, [S.L.], v. 11, n. 7, p. 51-60, jul. 2006. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1007/bf02835993.
CANALES, Gustavo Montiel. Eras Geológicas. MX: Universidad Autónoma del Estado de Hidalgo, 2019. Disponível em: https://www.uaeh.edu.mx/docencia/P_Presentaciones/prepa2/2019/MontielCanales-Gustavo-ErasGeologicas.pdf.
Fonte e legenda da imagem de capa: Ilustração representa indivíduo do gênero Purgatorius, descrita como primata primitivo, considerado primeiro primata ancestral. Autoria de Nobu Tamura. Imagem extraída do site commons.wikimedia.org utilizando o termo de busca Purgatorius <link>.