Como viviam os maiores animais voadores da história, os Quetzalcoatlus?

22 de setembro de 2022

Por: Bruno Scott Fragoso Cerqueira

Atualmente, vivemos com dois grupos de animais vertebrados voadores ativos, as aves e os morcegos, mas, além deles, outro grupo extinto de vertebrados também podia alçar vôo: os répteis pterossauros! Os Quetzalcoatlus são um grupo de pterossauros que viveram no final do Período Cretáceo, conhecido como Cretáceo Superior, que ocorreu por volta de 100 a 65 milhões de anos atrás. Seu nome vem do deus asteca Quetzalcoatl, um deus réptil voador! Esse grupo contém somente duas espécies, o Quetzalcoatlus lawsoni, que possuía uma envergadura de 4,5 metros, e o Quetzalcoatlus northropi, com mais que o dobro de envergadura, chegando a cerca de incríveis 10 metros, sendo considerado um dos maiores, senão o maior, animal voador da história! Como os fósseis de tais animais foram encontrados em rochas de idades similares e com uma relativa proximidade, supõe-se que ambas espécies foram contemporâneas, ou seja, provavelmente viveram juntas em um mesmo período e região!

Em um estudo recente de 2021, pesquisadores analisaram as rochas em que os fósseis desses gigantes animais foram encontrados e puderam entender um pouco mais sobre como eles viviam.

As rochas em que continham os fósseis de Q. lawsoni apresentavam características que indicavam que a região, na época em que estes animais viviam, era composta por lagos pequenos e rasos. Além disso, tais rochas continham furos específicos, que indicam a presença de invertebrados do mesmo grupo das minhocas, dos caranguejos e das ostras! Isso, somado ao fato de que a água desses lagos parece ter sido inabitável para animais como peixes e tartarugas, indica que aqueles invertebrados eram a fonte principal de alimento de Q. lawsoni, o qual vivia ao redor destes pequenos corpos de água, ou pelo menos os visitava de tempos em tempos. E não é somente sobre o ambiente que podemos fazer suposições, mas também sobre o comportamento destes grandes voadores: como foram encontrados muitos fósseis de Q. lawsoni juntos que aparentavam ter a mesma idade, os pesquisadores supõem que eles eram um bando em migração!

O trabalho destes pesquisadores fica mais interessante quando vemos as características das rochas em que foram encontrados os fósseis da outra espécie, o colossal voador Q. northropi. Apesar de relativamente próximas, elas eram bastante diferente daquelas em que foi encontrada a outra espécie, sugerindo uma região com córregos, em que a quantidade de água corrente era muito variável, sendo, provavelmente, córregos efêmeros, ou seja, eles secavam e enchiam com frequência! Ainda, foram encontrados poucos exemplares dessa espécie, isolados entre si. Tudo isso leva a hipótese de que o Q. northropi era um gigante solitário e que preferia regiões de zona ripária, ou zona ribeirinha (sim, é daí que vem o nome da população ribeirinha, que vive exatamente nestas áreas de bordas de vegetação alagada!).

Apesar das diferentes composições paisagísticas preferidas, ambas espécies viviam em áreas de clima quente e seco, prosperando em uma região tropical, tendo condições climáticas similares aos estepes tropicais existentes hoje, característicos pela sua falta de umidade!

A partir das informações encontradas para cada região específica em que ambas espécies viveram, os pesquisadores concluíram que, se elas realmente viveram juntas, elas eram separadas por comportamentos ecológicos distintos e diferentes, mas próximos, habitats, assim como observado em algumas aves atualmente!

Texto fonte: Thomas M. Lehman (2021) Habitat of the giant pterosaur Quetzalcoatlus Lawson 1975 (Pterodactyloidea: Azhdarchoidea): a paleoenvironmental reconstruction of the Javelina Formation (Upper Cretaceous), Big Bend National Park, Texas. Journal of Vertebrate Paleontology, v. 41:sup1, p. 21-45. DOI: 10.1080/02724634.2019.1593184. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/02724634.2019.1593184 . Acessado em: 10 de abril de 2023.

Fonte complementar: Brian Andres & Wann Langston Jr. (2021) Morphology and taxonomy of Quetzalcoatlus Lawson 1975 (Pterodactyloidea: Azhdarchoidea). Journal of Vertebrate Paleontology, v. 41:sup1, 46-202, DOI: 10.1080/02724634.2021.1907587. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/02724634.2021.1907587 . Acessado em: 10 de abril de 2023.

Fonte e legenda da imagem de capa: Reconstrução hipotética de como seriam os Quetzalcoatlus em vida. Autoria de Mark Witton and Darren Naish. Extraída de commons.wikimedia.org. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Life_restoration_of_a_group_of_giant_azhdarchids,_Quetzalcoatlus_northropi,_foraging_on_a_Cretaceous_fern_prairie.png . Acessada em: 10/04/2023.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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