22 de novembro de 2021
Por: Otávio Alves
O fóssil de uma espécie de ave até então desconhecida foi descoberto na cidade de Nova Olinda, no Ceará, na Mina da Pedra Branca, que faz parte da formação geológica de Crato. A nova espécie, que foi batizada Kaririavis mater, viveu no Cretáceo Inferior, cerca de 120 milhões de anos atrás, e era uma habitante da atual região da bacia do Araripe.
Juntamente com a descoberta da espécie, foi descoberto também o gênero ao qual ela pertence, o qual foi batizado Kaririavis em homenagem ao povo indígena Kariri do nordeste brasileiro. A palavra “mater” vem do Latim e significa “mãe”, em referência ao fato de essa ser a espécie de ave mais antiga já descoberta na América do Sul. Achava-se que o já extinto grupo dos Ornituromorfos, ao qual a ave pertence, havia vivido apenas na Ásia, sendo que quase todos os fósseis do grupo descobertos até então haviam sido encontrados na China. A Kaririavis mater é o primeiro ornituromorfo descoberto em um dos territórios que milhões de anos atrás formavam o supercontinente chamado Gondwana, que era composto pelo que hoje são os continentes e subcontinentes da África, América do Sul, Antártida, Índia e Austrália.
A formação geológica Crato é considerada uma “lagerstätte”, que é uma palavra em alemão que designa depósitos sedimentares onde são encontrados fósseis extraordinários e muito bem preservados. Infelizmente não é o caso da Kaririavis. O fóssil encontrado trata-se de apenas uma pata isolada e de algumas penas que acredita-se pertencerem à mesma ave. Mesmo sem o fóssil inteiro, foi possível diferenciar a espécie de todos os gêneros já catalogados, e algumas inferências sobre seu hábito de vida também puderam ser feitas. O pé da Kaririavis mater tem características semelhantes aos de aves terrestres atuais pertencentes aos grupo dos Ratites, que inclui os avestruzes e as emas. Essa característica pode implicar que a espécie tinha um nicho distinto da maioria das aves de seu grupo que foram suas contemporâneas e que majoritariamente são consideradas aves semi-aquáticas. Apesar disso, outras características mais semelhantes aos pés das atuais aves de rapina indicam que a Kaririavis mater pode ter tido um hábito de vida totalmente diferente dos que conhecemos hoje.
A descoberta foi publicada em um artigo científica na revista internacional “Journal of Vertebrate Paleontology”. Os autores afirmam no artigo que o descobrimento desse fóssil indica que ainda sabemos muito pouco sobre a história inicial do grupo Ornithuromorpha.
Artigo fonte: Ismar de Souza Carvalho, Federico L. Agnolin, Sebastián Rozadilla, Fernando E. Novas, José A. Ferreira Gomes Andrade & José Xavier-Neto. (2021). A new ornithuromorph bird from the Lower Cretaceous of South America. Journal of Vertebrate Paleontology, p. e1988623. DOI: 10.1080/02724634.2021.1988623 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>
Fonte e legenda da imagem de capa: O fóssil da pata da Kaririavis mater, com algumas penas preservadas. Imagem extraída do artigo fonte.