Primeira descoberta de um genoma de paleovírus mesozoico

12 de setembro de 2020

Por: Rafaela Rocha Pezzopane

Vírus fóssil, você já ouviu falar? No dia 30 de abril de 2013 foi publicado um artigo sobre o genoma de um paleovírus mesozaico que evidenciava a evolução dos vírus da Hepatite B. O estudo foi realizado por um grupo de pesquisadores composto por Alexander Suh, Jürgen Brosius, Jürgen Schmitz e Jan Ole Kriegs das Universidade de Uppsala na Suécia e Alemanha. Primeiro vale ressaltar que os vírus são organismos intracelulares obrigatórios, ou seja, para se multiplicarem e perpetuarem sua espécie é preciso que eles infectem células. Nesse momento é possível que o material genético viral seja incorporado ao genoma da espécie hospedeira. Além disso, são compostos por material genético (RNA ou DNA), um capsídeo proteico e em alguns casos uma membrana lipídica.

Por terem essas características o processo de fossilização dos vírus é quase que impossível de se alcançar, por isso a Paleovirologia se dedica a estudá-los de uma forma indireta. A partir de análises moleculares de material genético “deixado” nos hospedeiros eucarióticos ao longo do tempo é possível datar a origem de um vírus. Esse material genético é chamado de elementos virais endógenos. A pesquisa realizada trata-se do vírus da Hepatite B (HBV), pertencente à família Hepadnaviridae ou também chamado de vírus de transcrição reversa de DNA. A HBV é considerada um problema de saúde global.

Os pesquisadores mostraram que os Hepadnaviridae são 63 milhões de anos mais antigos do que anteriormente estudado (meros 125 mil anos atrás) e forneceram evidências diretas para a coexistência de vírus da hepatite B e pássaros durante as eras Mesozoica e Cenozoica. Até onde se sabia os vírus da hepatite B tinham se originado em mamíferos. Surpreendentemente, foi encontrado 99% da sequência de um vírus da hepatite B em um tentilhão zebra, que atualmente não é considerado um hospedeiro do vírus. O estudo contou com análises computacionais e filogenéticas das sequências obtidas de fragmentos genômicos de 6 espécies de pássaros. Essa reconstrução de endogenização foi feita em programas como BLAST.

A descoberta de um paleovírus coexistindo com linhagens de pássaros neonavianos desde o Cretáceo Superior a partir de análises de elementos virais endógenos mudou o olhar sobre a evolução dessa família viral. Além disso, a pesquisa se mostrou ser um importante estudo para a Paleovirologia, que ainda é uma área pouco explorada. Desta forma, este estudo se tornou o primeiro trabalho a apresentar a sequência genômica de um paleovírus mesozoico.

Artigo fonte: Suh, A.; Brosius, J.; Schmitz, J.; Kriegs, J. (2013). The genome of a Mesozoic paleovirus reveals the evolution of hepatitis B viruses. Nature communications, v. 4, n. 1791, p. 1-7. Doi:10.1038/ncomms2798 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>

Legenda e fonte da imagem: Eventos de endogenização do vírus da hepatite B durante a evolução das aves. Repare na escala abaixo da filogenia e na endogenização começando a partir da linhagem de pássaros Neonaves. (Imagem extraída do artigo fonte.)

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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