Uma viagem através do tempo: Evolução da floresta de transição Cerrado – Mata Atlântica durante o Holoceno tardio*

25 de setembro de 2022

Por: Jade de Melo Albanaz

*Texto publicado também no espaço biótico <confira aqui>

O tempo é dividido em eras, períodos e épocas para que haja melhor compreensão de eventos que ocorreram ao longo da história do planeta Terra. A época mais recente é denominada Holoceno e se iniciou há aproximadamente 11,7 mil anos atrás, se estendendo até os dias de hoje. A parte mais recente do Holoceno pode ser chamada de Holoceno tardio e começou há aproximadamente 4,2 mil anos atrás. Ao longo dos períodos, a terra passou por diversas mudanças climáticas, geológicas, ambientais e biológicas. A partir de alguns indicadores é possível “viajar através do tempo” e inferir algumas dessas transformações que ocorreram do passado até os dias de hoje.

Uma dessas mudanças estudadas é a evolução da floresta de transição entre Cerrado e Mata Atlântica na Bacia do Rio Mogi Guaçu, no Estado de São Paulo, através de registros sedimentares nas planícies de inundação de rios meandrantes. As planícies de inundação de rios meandrantes estão associadas à história da vegetação nas áreas de intercâmbio entre Cerrado e Mata Atlântica, as quais foram marcadas por momentos de expansão e redução entre o Cerradão e a floresta Semidecídua-Ripariana, uma vegetação encontrada no bioma Mata Atlântica.

Por meio do registro de grãos de pólen e indicadores isotópicos (pequenas variantes de um mesmo elemento químico, como, por exemplo, o chamado “carbono doze” e “carbono treze”, ou o “oxigênio 16” e o “oxigênio 18”) é possível realizar inferências a respeito das transformações climáticas e ambientais sobre a reconstrução da vegetação . O estudo na Bacia do Rio Mogi Guaçu apontou que de aproximadamente 2730 anos atrás até os dias de hoje a região passou por três estágios de grandes mudanças:

  • Estágio l: começou há cerca de 2730 anos atrás, ele é dado por uma fase climática mais úmida que está ligada à expansão da Floresta Ripariana nas áreas de transição.
  • Estágio ll: durou de 1800 a 510 anos atrás marcada por um período mais seco que ocasionou em uma expansão do Cerradão e consequentemente uma diversificação de espécies do Cerrado.
  • Estágio lll: Desde 510 anos atrás até os dias do presente, ocorreu um retorno da umidade gerando um retorno do aumento da Floresta Semidecidua – Ripariana e consequentemente uma diminuição do Cerradão nas áreas de transição.

Sendo assim, os resultados mostraram que a partir de 2730 anos antes do presente até os dias atuais, houve uma predominância maior da vegetação Semidecídua-Ripariana na Bacia do Rio Mogi Guaçu. Essa predominância se deu em decorrência de períodos mais úmidos, com exceção do estágio ll, marcado por um período mais seco que possibilitou a expansão do Cerradão. Dessa forma, é possível, no presente, inferir as dinâmicas climáticas e ambientais do passado e entender como se deu o processo de reconstrução da vegetação em determinados períodos de tempo, para enfim chegarmos às composições vegetais que podemos ver nos dias atuais.

Artigo fonte: Souza, M. M., & Ricardi-Branco, F. (2021). Evolution of the Semideciduous-Riparian Forest (ecotone Cerrado-Atlantic Forest) during the late Holocene, Southeast of Brazil. Revista Brasileira De Paleontologia, 24(2), 120–140. Doi: 10.4072/rbp.2021.2.04 Disponível em: https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/149 . Acessado em 24/04/2023.

Fonte e legenda da imagem de capa: A imagem retrata um Ipê Amarelo, representando a vegetação semidecidual de Mata Atlântica e um Pequizeiro, representando o Cerradão. As árvores se encontram dentro de uma ampulheta que representa as mudanças que ocorreram na vegetação ao longo do tempo. Imagem elaborada pela própria autora do texto: Jade Albanaz.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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