21 de março de 2020
Por: Laura Fernandes
Os ambientes paleontológicos são resultantes de amplas mudanças e variações dos processos sedimentológicos ao logo do tempo. A Formação Tatuí, área eopermiana localizada na Bacia do Paraná, região centro-leste do Estado de São Paulo, não poderia ser diferente. Em sua composição, há camadas de argilitos e arenitos finos com conglomerações flúvio deltaicas (sedimentos fluviais reorganizados por ações marinhas) e a presença de muitos fósseis, como crustáceos e vertebrados. Assim, é uma região fortemente utilizada para estudos e pesquisas muito conhecida pelo surgimento de novas descobertas.
Segundo o estudo, NOVOS DADOS PALEONTOLÓGICOS DA FORMAÇÃO TATUÍ (Chahud, 2018), as informações a respeito da vegetação da Formação Tatuí eram associadas a fragmentos isolados de caules de pteridófitas e espermatófitas provenientes de áreas antigas do Conglomerado Ibicatu (de uma parte de estrada destruída da região) e icnofósseis (vestígios da atividade de organismos) presentes na base da Formação Irati que possui contato com o topo da Formação Tatuí. De acordo com os dados, os fósseis de vegetais possuíam diferenças nos anéis de crescimento e tamanhos da medula quando comparados entre si e poderiam ter sido modificados por compressão sedimentar. As posições dos mesmos indicavam que haviam sido transportados e, portanto, não estavam em suas posições naturais.
Em pesquisas anteriores (Chahud, 2011, Geologia e paleontologia das formações Tatuí e Irati no centro leste do Estado de São Paulo. Tese de doutorado.), os icnofósseis foram descritos com a presença de estruturas raras e que não haviam sido encontrados em outras partes das camadas do topo da Formação Tatuí, sugerindo que os depósitos tiveram origem em uma região de transgressão sendo cobertos imediatamente pelo sedimento da camada que se depositou por cima após o aumento do corpo d’água. Entretanto, tal preservação dificilmente poderia ter ocorrido, já que geralmente os depósitos são destruídos por eventos de transgressão, uma vez que é uma atividade contínua. Foi demonstrado, então, por estudos mais recentes que o substrato era estável, de arenito fino a síltico e formado por eventos não contínuos que contribuíram para a preservação dos icnofósseis (como tempestades ou grandes enxurradas).
O estudo, então, demonstra que tanto os fósseis vegetais quanto os icnofósseis descobertos no topo da Formação Tatuí foram originados a partir de chuvas intensas e volumes grandes de água, o que poderia explicar a atividade de transporte e as posições fora de suas áreas de vida. Portanto, caracteriza de uma forma diferenciada o ambiente e a sedimentação encontrada, composta desde arenitos finos até conglomerados. Essas novas análises, a partir dos mais recentes dados obtidos, contribuem para uma nova leitura do ambiente paleontológico dessa região e permite que novas pesquisas sejam realizadas para a expansão dos mais variados campos da paleontologia.
Artigo fonte: Chahud, Artur & Petri, Setembrino. (2018). Novos dados Paleontológicos da Formação Tatuí (Eopermiano, Bacia do Paraná) no Centro-Leste do Estado de São Paulo. Revista Bioterra, v. 18, n. 1, p. 70 – 77. <Clique aqui para acessar o artigo fonte>
Legenda e fonte da imagem: Acima, tronco fóssil tipo gimnospérmico da Formação Tatuí (barra de escala = 5 cm) e abaixo três exemplares de icnofósseis da mesma formação (barra de escalas = 10 cm). Imagens extraídas das figuras 1 e parte da figura 4 do artigo fonte.