Curiosidades sobre o incrível fóssil brasileiro de Tupandactylus navigans

08 de abril de 2023

Por: Maria Lucia Coelho Melo

Foi descoberto na Formação Crato (Grupo Santana, Bacia do Araripe, NE-Brasil), um esqueleto muito bem preservado do Cretáceo Inferior, articulado e praticamente completo de um Tupandactylus navigans. Ele pertence à Família Tapejaridae, tendo um ancestral comum com outros pterossauros.

Até então, quase a totalidade dos fósseis brasileiros de tapejarideos era conhecida apenas por crânios isolados ou esqueletos que incompletos. Este novo fóssil encontrado, porém, está com o esqueleto praticamente completo, tanto crânio quanto pós-crânio, e ainda tem boa parte dos tecidos moles preservados, condição que faz com que ele seja o registro mais íntegro de um tapejarideo descoberto até hoje.

Os membros do Gênero Tupandactylus são singulares devido a sua grande crista sagital (proeminência no topo do crânio), que é constituída de tecido mole. O fóssil encontrado tem uma envergadura de aproximadamente 2.7 metros e foi considerado um indivíduo adulto, considerando o modo de fusionamento de seu esqueleto e comparações com outros tapejarideos conhecidos. Uma característica comum em pterossauros (incluindo Tupandactylus navigans) é a impossibilidade de separação entre a maxila e pré-maxila, pois não existe uma junção perceptível entre elas. O Tupandactylus navigans possui o maxilar inferior sem dentes e a hemimandibula direita (osso da mandíbula), quando foi analisada por tomografia computadorizada (TC), apresentou um desvio ventral o que pode significar que houve uma fratura antes de passar pelo processo de sepultamento relacionado à sua fossilização.

Uma das estruturas mais características do Tupandactylus navigans é a crista sagital, constituída por tecido mole protuberante que pode ser cinco vezes maior do que o tamanho do seu crânio. É interessante notar que o fóssil apresenta a mão esquerda completa, com a formação falangeal no modelo 2-3-4, o que significa que ele possuia três dedos, correspondentes aos dedos indicador, médio e anular. Outra característica comum aos pterossauros é que eles têm somente quatro dedos nos pés; e apresentam a formação falangeal modelo 2-3-3-4, indicando que eles possuem os dedos correspondentes aos dedos indicador, médio, médio e anular.

Em um primeiro estudo sobre o Tupandactylus navigans, ele foi separado do Tupandactylus imperator, pela diferenciação na sua crista sagital, a qual é perpendicular ao crânio e não tem uma dilatação posterior. Estas e outras discrepâncias não eliminam a hipótese de que dimorfismo sexual (quando os indivíduos têm características morfológicas diferentes entre os sexos) seja a explicação da aparente separação entre as espécies. Portanto, é possível discutir a utilização da crista sagital e dentária na hora do acasalamento como um processo reprodutivo de pterossauros, com Tupandactylus navigans e Tupandactylus imperator podendo representar exemplos de dois sexos de uma mesma espécie sexualmente dimórfica.

Quanto ao voo, pode-se inferir que o Tupandactylus navigans não era um animal voador, ou que fosse capaz somente de voos de curtas distâncias, como para fugir de um predador, pois os seus membros anteriores são grandes e a sua coluna cervical é alongada, indicando um estilo de vida e forrageamento (ato da busca do alimento) terrestre. Há ainda que se ressaltar que a forma do crânio do Tupandactylus navigans é semelhante à do Tapejara wellnhoferi, e este teve a sua dieta citada como sendo de ingestão de vegetais duros, os quais são encontrados no solo. As características do voo e o provável forrageamento terrestre, carecem de um estudo mais detalhado e de mais análises biomecânicas.

Texto Fonte: Beccari V, Pinheiro FL, Nunes I, Anelli LE, Mateus O, Costa FR (2021) Osteology of an exceptionally well-preserved tapejarid skeleton from Brazil: Revealing the anatomy of a curious pterodactyloid clade. PLoS ONE 16(8): e0254789.

DOIhttps://doi.org/10.1371/journal.pone.0254789

Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0254789

Fonte e legenda da imagem de capa: Esqueleto de Tupandactylus navigans encontrado no Brasil, na Bacia do Araripe, Ceara. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/79/Tupandactylus_navigans_Fm_Santana_Bacia_Araripe_Cretaceo.jpg/450px-Tupandactylus_navigans_Fm_Santana_Bacia_Araripe_Cretaceo.jpg?20190418174813


Texto revisado por: Gustavo Firpe e Alexandre Liparini

Publicado por Gustavo Firpe

Biólogo e Professor. > ~° Mestrando em Zoologia pela UFMG. > Pesquisador na área de Paleontologia e Macroevolução. > §

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